Uma bella refeição

Balada guerreira, primeira garota da festa tem ligações sanguíneas com Porto Seguro, segurança truculento, coroas, mulheres jovens, tretas, loiraças, morenaças, fumaça, axé, dores no corpo amanhã, negras lindas, água mineral, cerveja, funk, banheiro, polícia, Big Moma’s House, Acacia Avenue brasileira… São Paulo.

A noite foi bem agitada, mas nem assim o seu todo é tão digno de registro quanto o seu fim. Sozinho, na Avenida Paulista, às quatro da manhã, meu estômago ronca e nem penso em outro lugar para ir: Bella Paulista. Trata-se de uma padaria/confeitaria/lanchonete/ restaurante – chame como quiser – no coração de Sampa. Para ter uma idéia da popularidade, àquela hora o lugar estava lotado.

Bella Paulista

Até então eu só havia comido a pizza do lugar – aprovada. Queria experimentar os sanduíches. Hambúrguer, nem pensar. Vou nos especiais. Peço um Santo Amaro: salsicha alemã grelhada coberta de queijo, com vinagrete e mostarda esqueci-o-nome na baguete. Só quando chegou a belezura me lembrei do aviso que uma amiga havia dado outro dia: o lanche é enorme. Vem cortado em três pedaços, cada um equivalente a um sanduíche normal.

Não foi por desapreço que não comi os três, pelo contrário. Refeição soberba, para dizer o mínimo. Esqueça as sadias, perdigões e pif pafs da vida. Não há paralelos entre elas e a salsicha alemã. Só comendo para saber como é. O vinagrete dá aquele tcham e a mostarda faz o “acabamento” perfeito.

E eu nem falei do pão… Ai, o pão… Era macio, leve, tinha uma casquinha crocante, mas bem fininha, fininha mesmo, como a de algo que eu já comi, mas não me lembro o que é. Não se parecia com nenhum pão que eu havia comido, nem com o do Subway. Ah, o ketchup é Heinze, America’s Favorite. Esqueça os cicas e hellmans da vida.

O segundo pedaço eu comi por pura gula/respeito. Um só é o suficiente para uma pessoa que come pouco. Os três dão perfeitamente para duas pessoas. Eu não podia deixar que jogassem fora aquele terceiro pedaço. Mesmo tendo escolhido o mais “barato” dentre os especiais (R$ 12!), eu tinha de aproveitá-lo inteiramente.

Mandei embrulhar. Chegou uma caixinha personalizada da Bella. Naquela madrugada, eu faria alguém feliz. Quase na esquina com a Consolação, eu encontrei o sortudo: o primeiro mendigo que vi, dormindo na porta de um estabelecimento comercial, ganhou um sanduíche delicioso. Pus a caixinha ao seu lado e fui embora. Não me importei dele estar dormindo e não poder me agradecer: sei que, quando acordou, abençoou a mim e à minha família até a décima geração.

Eu não ia levar para comer depois. Quando quiser, vou lá e compro outro. Quem sabe não transformo o ato de doar o terceiro pedaço (intocado, vale destacar) num hábito, num ritual. São Paulo tem me dado muitas coisas boas e quero retribuir. Juro que queria fazer mais por essa gente que dorme ao relento (eu nunca vi tanto mendigo na minha vida). Por enquanto, posso proporcionar a um pobre coitado uma bella refeição, pelo menos uma vez na sua vida.

2 Responses to Uma bella refeição

  1. Sílvia disse:

    Nooossa André alaguei o teclado aqui babando com tua descrição…rsrsrsrs Quando for em Sampa é mais um lugar pra eu encher o saco pra me levarem…. hahahahaha

    Alias vc pode ser uma das vítimas hein??? Vai ser meu guia gastronômico em Sampa…rsrsrs (Só naõ se assuste quando eu comer os 3 pedaços e meio que paquerar o teu terceiro…rs)

    Mas achei muito legal essa tua visao de dar pra alguem que tem fome… Parabéns pela atitude viu?!

    Bjão e aparece mais ow paulixxxxta!!!!rsrsrrss

  2. […] PS: O Mestre esteve novamente em São Paulo, esse ano, para uma gravação de seu programa. Não decepcionou: “Na TV, Anthony Bourdain humilha SP, mas venera sua comida”. Preciso dizer que concordo em gênero, número e grau? […]

Deixe um comentário